DOIS SENHORES - AONDE ESTÁ SEU CORAÇÃO?
Falar sobre dinheiro no Corpo do Mesias se tornou um tabu. Essa dificuldade não existe à toa, afinal, muitos abusos foram e continuam sendo cometidos ao se relacionar fé com bens. Ainda que muitos escândalos estejam em evidência nos dias atuais, esse não é um problema novo na história do Corpo do Messias. Já no primeiro século havia um grande cuidado em preservar os irmãos das garras daqueles que estavam interessados apenas em lucrar em cima do evangelho.
1 Tm 3.1-10
“Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da Igreja de Deus?), não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo. Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância, conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Também sejam estes primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato.”
No entanto, diferente do pensamento popular, o assunto dinheiro é mais santo do que parece. Mesmo que lobos, mercenários e abusadores tenham marcado a vida de muitas pessoas, o tema da relação entre dinheiro, bens e o Reino de Deus é belo e essencial para a vida do Corpo do Messias, quando tratado à luz das Escrituras. E, acredite, a Bíblia tem muito a dizer a esse respeito.
Se fôssemos elencar os assuntos que acreditamos ser os mais presentes na palavra de Deus, quais seriam eles? Salvação, fé, graça, perdão, céu e inferno certamente estariam em nosso top 10.
Mas e o dinheiro?
Qual seria seu lugar na lista? Provavelmente entre os últimos. Porém, segue um fato surpreendente: existem mais de 2.300 versículos bíblicos que falam sobre dinheiro. Além dos exemplos mais famosos:
Sl 62.10
“Não confieis naquilo que extorquis, nem vos vanglorieis na rapina; se as vossas riquezas prosperam, não ponhais nelas o coração.”
Lc 12.34
“porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”
Ec 5.10
“Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade.”
Pv.23.4
“Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência.”
Ml 3.9-10
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida.”
Pv 11;25
“A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado.”
Pv 3.9
“Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda;”
Lc 16.10
“Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.”
Dt 15.10
“Livremente, lhe darás, e não seja maligno o teu coração, quando lho deres; pois, por isso, te abençoará o Senhor, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo o que empreenderes.”
O próprio Senhor Yeshua falou muito sobre o assunto. De aproximadamente 40 parábolas registradas nos evangelhos, aproximadamente 11 tratam do tema. Cerca de 25% de tudo que o Messias disse foi sobre nossa relação com os bens e recursos deste mundo. É inegável que dinheiro era um assunto importante para Yeshua. Mas, por quê? Por que a Bíblia dedica tanto espaço para falar sobre o dinheiro? Porque dinheiro, querendo ou não, é algo importantíssimo para nós. Gastamos a maior parte de nosso tempo e esforço em assuntos relacionados ao dinheiro. Deixamos de cuidar da saúde, da família, dos amigos, do próximo e, o mais lamentável de tudo, deixamos de lado as coisas do próprio Deus por causa do dinheiro. Se o dinheiro é tão essencial para nós, certamente ele é importante para o Senhor.
O dinheiro exerce domínio sobre mentes e corações. A origem do dinheiro, não foram o escambo e as permutas que precederam a invenção das moedas de troca, mas o contrário. Evidências demonstram que há mais de 5 mil anos, na região do oriente próximo, o dinheiro já era usado nas estruturas centrais de poder das cidades da antiguidade: os templos pagãos. Justamente nos templos pagãos que os bens básicos de consumo como grãos e trigo eram armazenados e trocados por moedas correntes. Muito antes do primeiro texto bíblico ser escrito, o dinheiro já era usado no ambiente religioso pagão como algo sagrado. Não há neutralidade no dinheiro. Ele nasceu de uma espiritualidade e, não à toa, exige devoção. É por isso que o Senhor é tão categórico ao dizer:
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” Mt 6.24
Martinho Lutero chegou a afirmar que todas as pessoas precisam passar por três estágios de conversão: a razão, o coração e a carteira. Existe uma conexão direta entre nossa espiritualidade e a forma como lidamos com o dinheiro. Isso é tão importante que Yeshua apresentou a postura diante dos bens materiais como evidência da verdadeira fé (ou da falta dela). A conversão de Zaqueu, o chefe dos publicanos
Lc 19.1-10
“Entrando em Jericó, atravessava Yeshua a cidade. Eis que um homem, chamado Zaqueu, maioral dos publicanos e rico, procurava ver quem era Yeshua, mas não podia, por causa da multidão, por ser ele de pequena estatura. Então, correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque por ali havia de passar. Quando Yeshua chegou àquele lugar, olhando para cima, disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa. Ele desceu a toda a pressa e o recebeu com alegria. Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador. Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais. Então, Yeshua lhe disse: Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido.”
Somos apresentados à história de conversão de um homem rico chamado Zaqueu. Ele era o chefe dos publicanos, que eram os cobradores de impostos do império Romano. Um judeu poderia se tornar um publicano através do pagamento de uma quantia considerável. Se tornar um traidor da pátria era um preço pequeno a ser pago diante do grande lucro que a profissão lhe poderia proporcionar. Eles não eram detestáveis aos olhos do povo apenas por trabalharem para os dominadores, mas também por enriquecerem através de ganhos ilícitos sobre seus conterrâneos. O odiado e controverso Zaqueu ouviu falar sobre Yeshua o Nazareno. Sabendo que ele passaria por sua região, nasceu nele um desejo intenso de ver o Messias.
Sem se importar com o vexame que seria um homem de sua posição subir em uma árvore, ele escalou para ver o Senhor. O que ele não esperava é que o próprio Yeshua desejava ter um encontro com ele. Assim, o Mestre foi até a casa do chefe dos publicanos. À mesa com o Senhor Yeshua, Zaqueu creu e, como consequência de sua fé, algo tremendo aconteceu. Ele decidiu dar metade de seus bens aos pobres e restituir quatro vezes mais a qualquer pessoa que houvesse extorquido. Diante disso, Yeshua declarou “nessa casa houve salvação”. Sim, somos salvos pela fé, como foi Zaqueu, porém, essa fé nos dirige a uma relação diferente daquela que o mundo costuma ter com o dinheiro. O Mesias relaciona a postura de Zaqueu com o dinheiro como evidência de salvação. Um elo pode ser notado aqui: a forma como utilizamos nossos bens em relação ao próximo demonstra a genuína fé no Mesias.
“O obstáculo intransponível para o jovem rico” – Outra história de encontro entre um homem rico e Yeshua é narrada em:
Lc 18.18-25
”Certo homem de posição perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Yeshua: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude. Ouvindo-o Yeshua, disse-lhe: Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me. Mas, ouvindo ele estas palavras, ficou muito triste, porque era riquíssimo. E Yeshua, vendo-o assim triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.”
Um homem considerado reto, justo, trabalhador e obediente à lei de Deus se dirige a Yeshua com uma pergunta: o que me falta para herdar a vida eterna? Desde a adolescência aquele jovem guardava os mandamentos. Sua retidão e riqueza eram considerados um sinal da bênção de Deus diante de seus contemporâneos. No entanto, algo certamente lhe faltava e Yeshua lhe responde o que, dizendo: venda tudo o que você possui, dê o dinheiro aos pobres e então me siga. O que havia na vida do jovem rico não era escassez, mas excesso. Tudo que ele pensava possuir, na verdade, o possuía. Defronte a resposta do Mestre, o homem se entristeceu profundamente. O que o impedia de pertencer totalmente ao Senhor era o seu amor insuperável por seus muitos bens. A vida eterna não valia o custo. Seu deus era seu dinheiro, de quem ele era escravo. Por isso o Messias afirmou: como é difícil um rico entrar no Reino dos céus.
No dias de hoje nós certamente teríamos lidado com a situação de outro jeito. Primeiro teríamos elogiado o jovem rico por seu interesse em coisas espirituais. Depois, teríamos dito: “Apenas creia, isso basta; peça que Deus entre em sua vida – na verdade, você não precisa fazer nada”. E se o jovem dissesse “Tudo bem, eu creio” (o que certamente ele teria dito, porque não lhe custaria nada), nós o consideraríamos um seguidor do Messias. Imaginem como nós teríamos nos sentido abençoados sabendo que o Reino de Deus estava avançando a passos largos pela conversão desse homem rico e conhecido! Não demoraria, e livros e artigos seriam publicados sobre ele. Ele apareceria em programas de rádio e TV. Ele assumiria uma missão e faria parte do conselho da igreja; discursaria em cruzadas e receberia convites para compartilhar seu testemunho em igrejas e conferências no país inteiro, tornando-se, muito provavelmente, um homem ainda mais rico.
Se desfazer de todos os bens não é uma norma para seguir a Yeshua. Em nenhum outro lugar dos evangelhos o Senhor pede para outra pessoa o que pediu para o jovem rico. Mas fica claro que o Messias deseja retirar os obstáculos que nos impedem de segui-lo. Zaqueu e aquele jovem são dois homens ricos que igualmente se encontraram com Yeshua, todavia, com um contraste entre eles. Enquanto a disposição de abrir mão de suas posses demonstrava a fé do publicano, o apego inalienável do jovem rico aos seus bens materiais evidenciava sua falta de fé para a salvação. Como Senhor de nossas vidas, Yeshua não apenas pode, mas quer interferir na forma como nos relacionamos com o dinheiro e as posses. Se ele não pode ser Senhor sobre nossos bens, de fato ele não é nosso Senhor. Yeshua pede que entreguemos tudo ao seu senhorio. Ninguém pode servir a dois senhores.
A entrega total da viúva pobre:
Lc 21.1-4.
“Estando Yeshua a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas; e disse: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, todo o seu sustento.”
O Mesias toma lugar próximo a caixa de ofertas do templo ali, de maneira intencional, ele observa cada ofertante. Os ricos depositavam grandes quantias no gazofilácio.
No entanto, foi uma viúva pobre que surpreendeu o Senhor. Ela, em sua pobreza, depositou apenas duas moedinhas como sua oferta, porém, para Yeshua, ela deu mais que todos os outros. O que Yeshua estava medindo? Afinal, é muito óbvio que os ricos haviam dado mais dinheiro ao templo do que jamais aquela viúva poderia sonhar em possuir. Como ela poderia ter dado mais que os outros? Yeshua responde: os ricos deram do que lhes sobrava, mas ela, em sua pobreza, deu tudo que tinha. A maneira como lidamos com os recursos que pensamos ser nossos revela onde estão nossos corações. Deus não está interessado apenas se ofertamos, mas em como ofertamos. Veja que o Mesias, mais uma vez, lidou com a situação de maneira completamente diferente de nós. Certamente ficaríamos muito alegres pelas quantias exorbitantes das sobras dos ricos. Todavia, a quantia não impressiona o Senhor, mas sim a confiança e a dependência. Independentemente do valor, as sobras de um rico lhe custam muito pouco. Ele não deixará de fazer uma viagem, comer em um restaurante caro ou andar em seu carro de luxo por ter ofertado suas sobras.
Entretanto, quando um pobre dá tudo que tem, por menor que seja, lhe custa uma refeição, um transporte, um lugar para dormir. Faz toda diferença. O rei David, considerado um homem segundo o coração de Deus, mesmo sendo rico, pensava dessa maneira. Diante da possibilidade de ofertar ao Senhor algo que não lhe seria custoso, ele negou veementemente. Ele se recusou a dar algo a Deus que não demonstrasse a condição de seu coração voltada ao Senhor. Para ele, sua oferta tinha tudo a ver com o lugar onde se encontrava seu amor. Porém, antes de apontar para os ricos e dirigir acusações, responda algumas perguntas. Você tem um celular? Possui uma renda recorrente? Água corrente e energia elétrica? Acessa a internet e assina serviços de Streaming? Então, sem dúvida, você faz parte de uma minoria global. Grande parte do mundo não tem acesso a nenhuma dessas coisas. O custo de um simples jantar feito em um restaurante poderia alimentar uma criança africana durante um mês. Uma refeição em um fast food talvez tenha o mesmo valor necessário para manter uma família nordestina durante uma semana.
O que dizer então dos tênis de marca, jóias, perfumes e roupas caras? Onde está o nosso tesouro, ali também estará nosso coração. Yeshua está observando. Yeshua se importa. A forma como lidamos com o dinheiro evidencia se temos ou não a fé genuína.
No sublime amor de Yeshua haMashiach.
Yoshua e Shoshana – Mevasseret Israel